Existem dias que você mergulha tão fundo, que é possível ver as estrelas durante o dia.
Hoje é um destes dias, em que as águas profundas do esquecimento seriam, a mais gloriosa benção que você poderia esperar, mas elas não vem, nunca vêm e aquela sensação mítica de “puxa vida, o que foi que eu fiz? Ou o que faltou fazer?“, pega legal, e todos os monstros reais e imaginários parecem dançar em cima do seu corpo, em uma festa que deixaria uma catalepsia algo normal...
Dá para imaginar que foi um dia destes, tinha tudo aliás para ser um dia legal, tinha sobrevivido ao trem, meus amigos também, tinha conhecido alguém legal...
Mas então uma hora destas quando se está sozinho na tarde, sem nada para fazer, algo acontece como a queda de um meteoro, incêndio em massa, você conhece o abismo.
Eu conheci o Abismo hoje....
Não é uma metáfora, estou falando da manifestação física da escuridão, o que não é tão impossível quando se fala com deuses.
Ele é como uma gloriosa verdade, ele é instigante, ele cai como um paradoxo, ele é uma dor tão grande que só a sua finitude é um prazer inenarrável.
Me achava imortal, hoje me vi o mais finito dos seres, nada que conturbasse com a imortalidade da alma ou qualquer coisa assim, simplesmente nulo, a única coisa que eu vi e vivi neste momento foi minha própria identidade, nada mais, e este momento foi tão intenso que pareceu durar cosmologias inteiras.
Me senti em cada castigo do Hades, não pela dor, mas pela sensação da repetição impotente do mesmo fato, eternamente.
Eu estava sozinho, eu sempre estou sozinho...
O garoto estranho na torre.
A inutilidade do fato, de todos os fatos, o poder terreno, tudo é então pó, naquele momento.
Mesmo não tendo olhos, ele me olhou duas vezes...
Achei que deveria ter deixado de existir, seria mais fácil, seria bem vindo.
Minha razão falou comigo como uma terceira pessoa, talvez tivesse sido alguém mesmo, não sei, não foi relevante no momento, o Abismo era tudo e tudo que eu sabia era o Abismo, o misto de sentimentos me abriu como uma autópsia.
Pelo que viver? Porque viver? Porque chorar? Porque sorrir?
Se a humanidade tomou diversos golpes em seu ego, o meu foi vivissecado, pois me achava alto em meus planos e expectativas, me sentia alguém, me sentia algo...
Mas eu sou nada.
E não há maior queda do que a verdade ceifando um pensamento exaltado.
Mas eu sou nada.
E em minha nulidade, me arrastei para esta efêmera de certeza que me protege que chamo de vida real, buscando beleza para aliviar meus olhos densos, pois parece que minha alma se escondeu, pois não consigo mais sorrir.
Mas eu sou nada.
Terceira vez escrito, consumado, cumprido então está.
Esta é a diferença entre um deus e um mortal...
Certas coisas não se misturam.
Não me lembro como cheguei no dormitório, mas talvez eu nunca mais consiga sair daqui.
Talvez na verdade eu saia na aurora, talvez não exista uma aurora e o doce abraço do esquecimento me leve eternamente daqui.
Queria orar a algum deus, mas não me lembro de mais nenhum nome.
Então só vou ficar aqui acordado, abraçado ao diário que agora escrevo, pois com ele não morreria sozinho...
Eu vi deuses cuja face poderia estilhaçar a razão de um homem, quando minha idade era ainda mais tenra e não esmoreci.
Mas estou com medo do escuro, me senti uma inócua presa, até fugir se tornou irrelevante, pois o Abismo tinha um nome nele, e eu pude ver qual era...
Só quero ficar aqui, com a luz acesa.
Esperando que ele nunca mais, volte...
Hoje é um destes dias, em que as águas profundas do esquecimento seriam, a mais gloriosa benção que você poderia esperar, mas elas não vem, nunca vêm e aquela sensação mítica de “puxa vida, o que foi que eu fiz? Ou o que faltou fazer?“, pega legal, e todos os monstros reais e imaginários parecem dançar em cima do seu corpo, em uma festa que deixaria uma catalepsia algo normal...
Dá para imaginar que foi um dia destes, tinha tudo aliás para ser um dia legal, tinha sobrevivido ao trem, meus amigos também, tinha conhecido alguém legal...
Mas então uma hora destas quando se está sozinho na tarde, sem nada para fazer, algo acontece como a queda de um meteoro, incêndio em massa, você conhece o abismo.
Eu conheci o Abismo hoje....
Não é uma metáfora, estou falando da manifestação física da escuridão, o que não é tão impossível quando se fala com deuses.
Ele é como uma gloriosa verdade, ele é instigante, ele cai como um paradoxo, ele é uma dor tão grande que só a sua finitude é um prazer inenarrável.
Me achava imortal, hoje me vi o mais finito dos seres, nada que conturbasse com a imortalidade da alma ou qualquer coisa assim, simplesmente nulo, a única coisa que eu vi e vivi neste momento foi minha própria identidade, nada mais, e este momento foi tão intenso que pareceu durar cosmologias inteiras.
Me senti em cada castigo do Hades, não pela dor, mas pela sensação da repetição impotente do mesmo fato, eternamente.
Eu estava sozinho, eu sempre estou sozinho...
O garoto estranho na torre.
A inutilidade do fato, de todos os fatos, o poder terreno, tudo é então pó, naquele momento.
Mesmo não tendo olhos, ele me olhou duas vezes...
Achei que deveria ter deixado de existir, seria mais fácil, seria bem vindo.
Minha razão falou comigo como uma terceira pessoa, talvez tivesse sido alguém mesmo, não sei, não foi relevante no momento, o Abismo era tudo e tudo que eu sabia era o Abismo, o misto de sentimentos me abriu como uma autópsia.
Pelo que viver? Porque viver? Porque chorar? Porque sorrir?
Se a humanidade tomou diversos golpes em seu ego, o meu foi vivissecado, pois me achava alto em meus planos e expectativas, me sentia alguém, me sentia algo...
Mas eu sou nada.
E não há maior queda do que a verdade ceifando um pensamento exaltado.
Mas eu sou nada.
E em minha nulidade, me arrastei para esta efêmera de certeza que me protege que chamo de vida real, buscando beleza para aliviar meus olhos densos, pois parece que minha alma se escondeu, pois não consigo mais sorrir.
Mas eu sou nada.
Terceira vez escrito, consumado, cumprido então está.
Esta é a diferença entre um deus e um mortal...
Certas coisas não se misturam.
Não me lembro como cheguei no dormitório, mas talvez eu nunca mais consiga sair daqui.
Talvez na verdade eu saia na aurora, talvez não exista uma aurora e o doce abraço do esquecimento me leve eternamente daqui.
Queria orar a algum deus, mas não me lembro de mais nenhum nome.
Então só vou ficar aqui acordado, abraçado ao diário que agora escrevo, pois com ele não morreria sozinho...
Eu vi deuses cuja face poderia estilhaçar a razão de um homem, quando minha idade era ainda mais tenra e não esmoreci.
Mas estou com medo do escuro, me senti uma inócua presa, até fugir se tornou irrelevante, pois o Abismo tinha um nome nele, e eu pude ver qual era...
Só quero ficar aqui, com a luz acesa.
Esperando que ele nunca mais, volte...